segunda-feira, maio 22, 2006


Karma?


Musa andaluza, George Apperley, 1930



Quando me irrito, por qualquer motivo, com qualquer coisa que de inesperado me acontece, rosno, não falo nem grito, rosno mesmo: "Isto não está a acontecer, isto é Karma!" Quando a coisa me parece mais grave utilizo a expressão mais exasperada e, portanto, também mais abreviada: "Isto é Karma!"

Num destes dias entrei na recepção e vi que uma das funcionárias confortava a recepcionista (angustiada com algum problema pessoal) dizendo: "Deixe estar, isso acontece, pronto, deixe estar... – e já em desespero – olhe, não ligue: isso é Cármen!"

Esqueci-me do que ia fazer à recepção e dei meia volta muda.

Quando nos acontece qualquer coisa de inesperadamente desagradável, não se culpem sacanas de colegas, filhos de mãe alheia, o resultado do Karma ou qualquer desígnio divino. Não, não vamos mais longe: a verdadeira culpada é a rameira da Cármen.